Por Dr. Adriano Oliveira

A paciente tinha feito uma bariátrica anos atrás. Perdeu quase uma dela em termos de peso. Veio dizendo que tinha três semanas de febre. “Proponho à senhora que interne para investigarmos”, disse a ela. Um mês de investimento numa exaustiva internação.

A ressonância magnética mostrava possíveis abscessos em formação em baço e fígado. O PetCT também. Tentamos fazer uma drenagem do abscesso hepático que tecnicamente era muito difícil. Amostra ruim. Material mandado para a microbiologia: Nada!

“Vá para casa” disse a ela.

“Vamos aguardar as sorologias em andamento”. Voltou ao consultório duas semanas depois. Aspecto pior. Tinha crepitos em bases. “Gostaria que reinternasse. Vamos fazer uma broncoscopia”. Resultado: nada! Novas imagens mostravam que alguns abscessos hepáticos estavam melhor formados e outros surgiram nos pulmões.

Família estressada. Já beirávamos dois meses de investigação. “Precisamos refazer a punção do fígado”. Conseguimos material de melhor qualidade e enviamos ao laboratório.

Falava com a microbiologista que acreditava num provável actinomiceto.

Horas depois: “Doutor, temos uma bacilo filamentoso Gram positivo na bacterioscopia!” Ah glória! Era um actinomiceto! Acendeu-se uma luz! Fui levar o resultado para a paciente!

Tudo bem então! Vamos usar amoxicilina! A paciente que a essa altura estava na semi-intensiva apresentou melhora nos dias que se seguiram. Eis que chega o resultado do Mald-tof. “Doutor, é uma micromonospora”. “Micromonos… o que?”

Mas que bactéria seria essa? Fui para a literatura.

Relatos de doenças invasivas por essa bactéria não existia! Muito estudada como exímia produtora de aminoglicosídeos e macrolídeos. O máximo que encontrei foi uma doença imunoalérgica causada pela aspiração dos seus antígenos que acontece muito com profissionais que lidam com a terra (farmer’s lung).

Liguei para o colega da microbiologia do laboratório de referência que havia realizado o Mald-tof. “É uma espécie produtora de aminoglicosídeos”, disse ele. ” Sensível a todo o resto. Pela gravidade do caso acho melhor você tratar com meropenem associado a alguma quinolona!”

Só que na Bahia não! Coloquei altas doses de penicilina cristalina. Costumo dizer que a gravidade do caso não justifica abrir espectro do antibiótico. Assim foi feito. A paciente foi melhorando progressivamente ao longo de mais de um mês. Dei alta com amoxacilina oral. Depois a vi rapidamente ainda em uso do antibiótico. Tomografia mostra abscessos resolvidos e a antibioticoterapia foi suspensa

Estou muito feliz com o resultado. Com esforço, obsessão pelo diagnóstico, muito manejo junto à angústia da família e contando com apoio inconteste de colegas e da microbiologia, conseguimos descobrir uma doença totalmente nova. Será publicado em breve. Aguardem!